Polêmico e sempre influente, o ex-governador Leonel Brizola ajudou a escrever a recente história do Brasil, principalmente na reconstrução da democracia no país. Rompeu com Lula por considerar uma continuação do governo Fernando Henrique Cardoso.
Presidente nacional do PDT e ex-governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola faleceu no Rio de Janeiro na noite de 21 de junho, em razão deum infarto por complicações infecciosas.
Leonel de Moura Brizola nasceu em 22 de janeiro de 1922, no povoado de Cruzinha, que pertenceu a Passo Fundo (RS) até 1931, quando passou à jurisdição de Carazinho (RS). Foi governador do Rio de Janeiro duas vezes (1983-1987 e 1991-1995). Antes do golpe de 1964, foi governador do Rio Grande do Sul e deputado federal pelo Rio de Janeiro.
Neste ano, o PDT chegou a cogitar o lançamento de Brizola à Prefeitura do Rio de Janeiro. Ele rompeu em 2003 com Lula por considerar que o atual governo era uma continuidade do de Fernando Henrique Cardoso.
Carreira política
A longa carreira política de Leonel Brizola teve início aproximadamente em 1945, quando esse político participou da fundação do PTB. Logo em seguida, ele se elegeu deputado estadual, no ano de 1947. Em 1949, Brizola formou-se em Engenharia Civil, mas não abandonou a política e, em 1950, reelegeu-se deputado estadual.
Em 1951, concorreu à Prefeitura de Porto Alegre, mas foi derrotado por menos de 1% de votos. Foi convidado a ser secretário estadual de Obras Públicas, cargo em que permaneceu até ser eleito deputado federal, em 1954, e prefeito de Porto Alegre, em 1955.
Em 1958, sua carreira política já deslanchara, e ele elegeu-se governador do Rio Grande do Sul, onde deflagrou a Rede da Legalidade, que lhe deu projeção nacional no ano de 1961. Em 1962, conseguiu eleger-se deputado federal pelo então estado da Guanabara, cargo que exerceu até ser cassado pelos militares, durante o golpe de 1964.
Depois de 15 anos no exílio, Brizola voltou ao país e conseguiu se eleger governador do Rio de Janeiro por duas vezes (1982-1986 e 1990-1994).
Participou ainda de três campanhas presidenciais: em 1989 e em 1994 como presidente e em 1998 como vice-presidente na chapa com Lula, do Partido dos Trabalhadores.
Campanha da Legalidade
A liderança exercida por Leonel Brizola na Campanha da Legalidade em 1961 foi uma das ousadas lutas travadas a favor da democracia e da permanência das instituições públicas.
A Campanha da Legalidade surgiu logo após a renúncia do ex-presidente Jânio Quadro
s, em 25 de agosto de 1961, e tinha por objetivo garantir a posse do vice-presidente como presidente da República.
Com a renúncia do presidente, os militares não queriam
aceitar a posse do vice-presidente João Goulart, cunhado de Leonel Brizola (que era casado com a irmã do vice-presidente). Mas, nesse momento, formou-se uma grande rede de apoio a João Goulart: UNE — União Nacional de Estudantes —, partidos políticos (UDN — União Democrática Nacional —, PSD — Partido Social Democrático —, PTB — Partido Trabalhista Brasileiro), além de governadores e da população em geral.
No Rio Grande do Sul, dois dias após a renúncia, o governador Leonel Brizola liderou a chamada Rede da Legalidade. Para isso, requisitou os transmissores da maior rádio do estado, a Rádio Guaíba de Porto Alegre, que, utilizando ondas médias e curtas, atingia todo o país durante 24 horas por dia defendendo a legalidade do país e a posse de Jango, como era chamado João Goulart. Em seguida, várias outras rádios se uniram à Guaíba e passaram a transmitir a Rede da Legalidade.
A transmissão ocorria no porão do Palácio do Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul, e, no auge da campanha, chegou a ser feita por meio de 104 rádios, a atingir altíssimos índices de audiência e até mesmo a ser feita em inglês, espanhol e ale mão.
Este foi sem dúvida um dos atos marcantes na carreira do então governador Leonel Brizola, pois contribuiu de forma decisiva para a posse de João Goulart.
O golpe militar e o exílio
Em 1964, com o golpe militar, que retirou do poder o presidente João Goulart, teve início uma caçada àqueles que defendiam as reformas de base (reforma agrária, tributária, educacional, entre outras), o trabalhismo e o socialismo. E Leonel Brizola encabeçava todas as listas de procurados pelos militares, pois, além de ser cunhado do presidente cassado, era árduo defensor das reformas de base.
Apesar de ter defendido uma resistência armada ao golpe militar, Leonel Brizola não encontrou apoio no presidente Goulart e, então, teve de exilar-se no Uruguai para não ser preso pelos militares. Entre 1965 e 1970, o ex-governador ficou cercado na praia de Atlântida, no Uruguai, sob pedido do Exército brasileiro. Em 1977, em virtude do golpe militar no Uruguai, Brizola foi expulso desse país, tendo de ir para os EUA, com apoio do então presidente norte-americano Jimmy Carter, que tinha forte presença na defesa dos direitos humanos.
Em 1979, Brizola foi para Lisboa, onde entrou em contato com socialistas europeus como Mário Soares (de Portugal), François Miterrand (da França) e Felipe González (da Espanha). Lisboa também foi a sede de uma reunião de caráter internacional, o Encontro de Trabalhistas no Brasil e no Exílio. Desse evento, resultou a Carta de Lisboa, que foi um marco na luta dos trabalhistas e a base do Partido Democrático Trabalhista — PDT.
Em 6 de setembro de 1979, chegaram ao fim os 15 anos de exílio de Brizola, que desembarcou no aeroporto de Foz do Iguaçu e seguiu para Porto Alegre.
A fundação do Partido Democrático Trabalhista — PDT
Ao voltar ao Brasil, Brizola tinha a intenção de recriar o antigo Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, fundado por Getúlio Vargas e João Goulart e que era a sigla mais importante para os trabalhadores brasileiros. Mas, por pressão dos militares, que não desejavam ver a tradicional sigla partidária sob o comando de Brizola, este foi dado para outro grupo político, liderado por Ivete Vargas. Então, Leonel Brizola fundou outro partido, o Partido Democrático Brasileiro — PDT —, obtendo seu registro em novembro de 1981.
FONTE: Educacional